Nilson Dias *
A compostagem é um processo biológico em que os microrganismos transformam a matéria orgânica, como estrume, folhas, papel e restos de comida, num material semelhante ao solo a que se chama composto.
Fazer compostagem em casa poupa transporte e custos de deposição de resíduos que não teriam o destino final adequado, sendo misturados com resíduos recicláveis em aterros sanitários.
Por que separar o lixo?
A cada dia se produz, no Brasil, milhares de toneladas de lixo. Parte do que é coletado se destina aos aterros sanitários, usinas de compostagem e incineradores. Mas a maior parte dos resíduos vai para lixões. Terrenos baldios, córregos, represas e rios também recebem boa parcela de lixo. Isso provoca um tremendo impacto ambiental e social, pois polui o meio ambiente e degrada a qualidade de vida das pessoas que moram nos arredores. Em tese, 80% de tudo que é jogado fora poderia ser reaproveitado, mas não é o que acontece. As empresas de reciclagem, os catadores, ONGs e algumas prefeituras dão conta apenas de parte do lixo reciclável – mas quase nada do resíduo orgânico é separado. Agora, se cada um de nós encaminhar o lixo seco para reciclagem e transformar restos orgânicos em húmus, crescem as chances de resolver o problema do lixo e assim proteger a natureza, a cidade e, por tabela, nós mesmos.
Por que ter uma composteira em casa?
Além de ajudar o planeta você estará trazendo saúde e bem-estar para sua família. O composto produzido poderá ser utilizado para iniciar um cultivo de verduras, legumes e até mesmo frutas em hortas no seu quintal, caso more em casa, ou em jardins verticais em seu apartamento ou áreas de uso comum do seu prédio ou condomínio. Também serve para adubar plantas ornamentais e flores!
O que é o húmus ?
Com textura, cor e cheiro de terra, o húmus de minhoca é produto do processo de compostagem. Era usado no antigo Egito como adubo para hortas, jardins e floreiras. Hoje pode ser comprado em lojas de jardinagem ou preparado em casa. A vantagem da produção caseira? Sai de graça e dá um fim nobre aos restos de comida.
Transformando lixo orgânico em húmus
Na natureza esse processo se dá naturalmente. Galhos e troncos secos, folhas, flores, dejetos e restos de animais mortos caem no solo e, com a ação da chuva, do oxigênio presente no ar e dos agentes “decompositores”, viram húmus e nutrem a terra. Quem mora na roça costuma jogar restos orgânicos num buraco na terra ou empilhá-los – e a natureza cuida do resto. Para o morador de cidade foram criados as composteiras.
O que é uma composteira?
Construída de diversas formas e tamanhos, a composteira é uma pequena “usina” que acelera o ciclo natural de decomposição da matéria orgânica, pois cria um ambiente propício para que os micro-organismos (fungos e bactérias) e as minhocas trabalhem mais rápido. Vamos falar aqui apenas das composteiras aeróbicas, que dependem da ação de bactérias que consomem oxigênio.
A composteira fornece umidade e oxigênio para que os micro-organismos e minhocas tenham melhores condições de transformar a matéria orgânica em húmus.
Os agentes decompositores
São bactérias, fungos e minhocas que transformam o lixo em húmus. É uma reação em cadeia: cada grupo dessa equipe prepara o caminho para o seguinte, convertendo um material biodegradável complexo num material mais simples, que será consumido pelo próximo. Se você observar um tomate maduro fora da geladeira por vários dias vai perceber buraquinhos e manchas na pele. São os decompositores provocando uma reação bioquímica, que envolve o trabalho de animais (aspecto biológico) e uma modificação na estrutura do tomate (fator químico). A função destes seres é transformar restos, como o tomate podre, em cálcio, magnésio, potássio, fósforo, enxofre, ferro e outros nutrientes para o solo.
O que se coloca na composteira?
Resíduos orgânicos produzidos na cozinha, horta ou jardim: aparas de grama, folhas de árvores, cinzas e sobras de carvão, restos de verduras e frutas, casca de ovo, pó de café, saquinho de chá, guardanapo de papel usado e restos de comida do prato.
Quanto às carnes, há restrições. A composteira perfeita tem três vezes mais material rico em carbono do que material rico em nitrogênio. Exemplos de materiais ricos em carbono: capim, folha e grama. Materiais ricos em nitrogênio: restos de alimentos e estrume.
Um pouco de terra ou de composto pronto deve ser incluído para garantir a presença dos micro-organismos e minhocas. Galhos de árvore, casca de coco e restos grandes também podem, mas cortados em pedaços. Quanto mais fragmentado o material, mais rápida será a compostagem, pois haverá maior superfície para o ataque dos micro-organismos. Ou seja, se possível, pique ou triture o material orgânico antes de depositá-lo na composteira. Em todo caso, quando for retirar o húmus, peneire a terra. O material que ainda não estiver bem decomposto deverá voltar para a composteira.
Por que não colocar os restos diretamente no solo?
Jogadas por cima da terra, as sobras de alimento atraem insetos e animais. Mesmo enterrando esses restos, corre-se o risco de criar vetores indesejáveis ou de comprometer o lençol freático.
Tem que ter minhoca?
Em quase todos os tipos de composteira, sim. As composteiras que usam minhocas são também chamadas de minhocários. As minhocas comem os restos de alimento – além de areia e terra para facilitar a digestão – e o produto residual é um pequeno grão, a cápsula. Em quantidade, essas cápsulas formam o famoso húmus de minhoca. Além disso, as minhocas abrem túneis, indispensáveis à aeração da massa de lixo orgânico.
Em geral, os pacotes de húmus de minhoca das lojas já vêm recheados de ovinhos, mas você também pode comprá-las em separado (neste caso, opte pelas resistentes e trabalhadoras “vermelhas da Califórnia”). O bom é que, depois de povoar sua composteira, elas se reproduzem com rapidez.
É possível ter composteiras sem minhoca, neste caso precisará de mais de um recepiente ou espaço pois a decomposição é mais lenta.
Provoca cheiro ruim?
Só se estiver mal cuidado. Caso aconteça, ou é porque a composteira não está bem aerada: você pode ter colocado materiais muito grandes, que deveriam ser previamente fragmentados para não provocar compactação. Os tubos de aeração podem estar obstruídos pelo próprio material em decomposição. Ou a composteira está úmida demais: pode ter faltado proteção contra as chuvas, ou talvez haja excesso de restos ricos em nitrogênio, quando o material entra no estágio anaeróbico e fermenta, provocando mal cheiro. A solução é remover o composto, deixar secar ao sol e retomar a compostagem, adicionando resíduos ricos em carbono, pois eles têm a função de aerar o sistema.
* Nilson Dias é Gerente de Projetos (MBA) do Instituto Pindorama e Permacultor - nilson@pindorama.org.br
Por: ForumSec21