Diante dos desafios que surgem para encarar as chuvas do verão em um lugar que convive com o trauma e o medo, governo e sociedade civil devem trabalhar juntos para tornar Nova Friburgo uma cidade mais segura e preparada para enfrentar possíveis desastres.
Bernardo Fonseca
Há dois anos o Brasil presenciou a maior tragédia climática de sua história. O resultado de horas e horas seguidas de chuva forte todos já conhecem. Quase mil mortos, centenas de pessoas desaparecidas, milhares de feridos, desabrigados e uma destruição sem precedentes na região. Conforme o tempo passou ficou cada vez mais evidente que o processo de reconstrução das cidades afetadas não seria rápido e muito menos fácil.
Em meio ao despreparo da sociedade em responder de forma adequada a situação de calamidade, ficou evidente que tanto o poder público, como o setor produtivo, os serviços e a população em geral não estavam preparados para lidar com os problemas. Até hoje há famílias que não conseguiram receber o aluguel social, as casas populares ainda estão em fase de construção, diversas obras de urgência ainda não foram iniciadas e os municípios afetados se recuperam lentamente.
Dois meses depois do ocorrido na serra fluminense, um forte terremoto seguido de um tsunami atingiu o Japão e sua costa matando mais de 20 mil pessoas e varrendo cidades inteiras. Para piorar a situação de catástrofe, o impacto do tsunami causou a explosão de reatores nucleares da Usina de Fukushima e provocou uma das maiores crises da história. Graças a uma ação rápida do governo japonês e a uma população já preparada e treinada para enfrentar esse tipo de situação muitas mortes puderam ser evitadas e a reconstrução dos locais atingidos vem ocorrendo de forma exemplar.
Um caso em específico chamou bastante atenção da imprensa brasileira alguns dias depois da catástrofe quando uma rodovia completamente destruída e desnivelada pelo terremoto fora completamente refeita em apenas uma semana. A foto do antes e depois da rodovia foi parar em jornais do mundo todo e a imagem circula por pela internet até hoje como um exemplo da capacidade do povo japonês de responder rapidamente e de forma organizada a uma situação de adversidade tão intensa e, diga-se de passagem, bem maior do que o que ocorrera no Brasil.
Resiliência x sustentabilidade
A esse preparo de uma sociedade para resistir e responder aos desafios de crises e abalos damos o nome de resiliência. De forma resumida, resiliência é a capacidade que tem uma pessoa, um grupo ou uma população de se recuperar perante uma adversidade e ultrapassá-la para continuar a seguir com a sua vida normalmente. O conceito tem cada vez mais sido debatido por governos de países em desenvolvimento, inclusive pelo governo brasileiro.
Uma cidade que esteja preparada para lidar com adversidades como enchentes, deslizamentos de terra, incêndios, furacões, terremotos, tsunamis, entre outros eventos climáticos consegue minimizar os impactos desses acontecimentos, evitando ou reduzindo um possível número de mortos e feridos, além de deixar o local menos suscetível a danos à produção econômica, diminuindo as chances do desemprego e do aumento da pobreza. Isso inclui também uma melhor relação com a natureza, evitando o desmatamento e a construção de casas e prédios em áreas de risco.
É possível concluir que o conceito de cidade resiliente está diretamente ligado ao conceito de cidade sustentável. São interdependentes, sem resiliência não há sustentabilidade. Alguns preferem que o termo da vez seja a resiliência ao invés da sustentabilidade. De modo geral, governos e sociedade terão de buscar soluções inovadoras e criativas para seus problemas, de forma que as cidades possam se desenvolver sabendo lidar com desastres.
Friburgo adere ao programa da ONU
A Organização das Nações Unidas (ONU) possui um programa chamado Estratégia Internacional para a Redução de Desastres (EIRD), cuja Campanha “Construindo Cidades Resilientes: Minha Cidade está se Preparando” foi lançada no Brasil através de uma iniciativa da Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), do Ministério da Integração Nacional, e pretende sensibilizar governos e cidadãos para os benefícios de se reduzir os riscos por meio da realização de dez etapas. De acordo com a apresentação do EIRD o objetivo da iniciativa é “aumentar o grau de consciência e compromisso em torno das práticas de desenvolvimento sustentável, como forma de diminuir as vulnerabilidades e propiciar o bem estar e segurança dos cidadãos”.
Nova Friburgo foi o primeiro município da região serrana a aderir ao programa da ONU, através de uma iniciativa da ONG Care Brasil junto à sociedade civil organizada que culminou com a assinatura do documento de adesão pelo prefeito Sérgio Xavier em maio deste ano. Assim, a cidade passou a integrar um seleto grupo de municípios brasileiros que fazem parte do movimento. São elas Araranguá, Blumenau, Criciúma, Florianópolis, Itajaí, Jaraguá do Sul, Joinville, Lages, Ponte Alta, Rio do Sul, Tubarão (SC), Macaé, Rio de Janeiro e São João da Barra (RJ), Campinas (SP) e Talismã (TO).
A mudança cultural é o caminho.
Há muita coisa por fazer, mas também existem muitos trabalhos que já foram feitos ou estão em desenvolvimento. A colocação de sirenes em comunidades vulneráveis à deslizamentos de terra, a implantação de um sistema de alertas de risco via SMS e a realização de simulados são passos fundamentais para provocar uma mudança cultural tão importante para que uma população possa alcançar a resiliência: a prevenção.
Quando um povo passa a ter uma cultura de prevenção, ela não somente estará mais ciente dos riscos e de como enfrenta-los da melhor maneira possível, como também estará mais atento às ações do governo, participando dos processos de decisão, mas também estará fiscalizando e cobrando rotineiramente do poder público, enfim estará mais consciente politicamente.
Para que isso ocorra, é de fundamental importância que haja vontade política, mas também engajamento da sociedade em geral. É preciso participar dos simulados da Defesa Civil, das reuniões de associações de bairro, estar atento a cada ação das autoridades locais para que todos possam ter uma cidade melhor e mais segura. Só assim será possível se livrar dos sustos com a chegada da temporada de chuvas e tornar Friburgo uma cidade resiliente.
Bernardo Fonseca é estudante de Comunicação Social na Universidade Estácio de Sá - fonsecb@gmail.com
Por: ForumSec21