25/03/2011
O Japão está situado sobre energia geotérmica inexplorada suficiente para substituir todas as usinas nucleares planejadas para a próxima década.
Porém, mesmo lutando para controlar o complexo de Fukushima e planejando construir mais 13 usinas nucleares, o Japão não tem planos de aproveitar os estimados 23,5 gigawatts em potencial geotérmico.
A energia geotérmica, que recebe pouco apoio na Ásia, deve atrair interesse ao passo que investidores repensam o panorama para a energia nuclear.
Encostado no Círculo de Fogo do Pacífico, um arco de atividade sísmica, o reservatório geotérmico asiático está entre os maiores do mundo. Apenas a Indonésia possui 40% das reservas mundiais, porém menos de 4% está sendo aproveitado, deixando um espaço enorme para crescimento do setor.
As principais economias asiáticas têm dependido da energia nuclear para alimentar a demanda insaciável por energia. Cerca de 112 reatores nucleares estão ativos em seis países e mais de 264 são planejados, segundo a Associação Nuclear Mundial.
Com a intensificação das críticas da população em relação à energia nuclear, os governos terão que repensar sobre fontes mais seguras de energias limpas.
“Focares novamente as atenções na energia alternativa. Outros começarão a considerar a geotérmica como opção; a mais segura e limpa de todas as fontes de energia”, comentou o diretor da empresa de Hong Kong Environmental Investment Services Asia Jeffrey Higgs.
Isto beneficiaria os fabricantes japoneses acima de tudo. Mitsubishi Corp, Toshiba Corp e Fuji Electric são líderes no setor de equipamentos para a indústria geotérmica, fornecendo quase 70% de todas as turbinas a vapor e engrenagens para as usinas ao redor do mundo.
Outras empresas que poderiam prosperar incluem a Energy Development Corp das Filipinas e a australiana Panax Geothermal.
A energia geotérmica, que se alimenta do calor do interior da Terra para liberar vapor de reservatórios subterrâneos, poderia ser uma substituta valiosa para parte da energia nuclear mundial, segundo especialistas.
É uma fonte de energia estável, ao contrário da eólica e solar, não sendo afetada por padrões meteorológicos imprevisíveis.
O custo a longo prazo da energia geotérmica, dependendo das condições geológicas, pode ser menor que o do carvão. A partir do momento que as reservas são confirmadas e uma usina de energia é construída, o vapor que move as turbinas da usina é virtualmente gratuito.
No Japão, que fica em terceiro logo após Estados Unidos e Indonésia em potencial geotérmico, segundo um relatório do Citigroup, o recurso representa apenas uma fração do mix energético.
Grandes investimentos, grande risco
O calor até 10 mil metros da crosta terrestre contem 50 mil vezes mais energia do que todo petróleo e gás natural no planeta. Este calor, após ser acessado, é gratuito, porém chegar até ele é caro.
Um projeto geotérmico é similar à exploração do petróleo ou mineração. O tamanho do recurso é desconhecido até que uma série de perfurações sejam feitas. O custo inicial de desenvolvimento pode ser alto.
Uma usina geotérmica de 20 MW requer US$ 7 milhões inicialmente para as análises e então outros US$ 20-40 milhões para perfurações. Até que o recurso seja comprovado, o risco de perda do investimento é alto.
Um MW de energia geotérmica requer investimentos de cerca de US$ 3,5 milhões versus US$ 1,2 milhões para o carvão. Outra barreira é o período de 5-7 anos desde a descoberta até a operação comercial.
Poucos fundos são aplicados aos projetos geotérmicos devido a esta longa espera pelo retorno financeiro. Como comparação, uma fazenda eólica ou solar pode estar ativa em 12-18 meses.
“Você não sabe se está lá até que tenha realmente desenvolvido”, comentou o diretor da Castle Rock Consulting Mike Crosetti, que conduziu estudos de precificação para o governo da Indonésia.
“E o mundo está cheio de casos onde os campos geotérmicos foram analisados, desenvolvidos e então se descobriu: não podemos sustentar este tipo de produção do campo”.
Higgs, da Environmental Investment, comentou que a energia geotérmica precisará de políticas governamentais claras e compreensíveis às empresas para a fabricação, construção e operação.
Leonora Walet e Tessa Dunlop
Traduzido por Fernanda B. Muller, Instituto CarbonoBrasil
Por: Reuters