10/08/2010 Noticia AnteriorPróxima Noticia

Caminhos para a cura da Terra

A solução está em adotarmos novos hábitos, praticarmos o consumo consciente, empregar energias renováveis, desmotivar o uso dos automóveis e combustíveis fósseis; transformarmos nossas cidades em lugares mais humanos e igualitários, estimular o uso de bicicletas, resgatar os lugares públicos como espaço de encontro entre as pessoas, adquirirmos consciência de que somos cidadãos planetários.

Sandra Ortegosa

Uma reflexão mais séria a respeito da cura planetária passa necessariamente pela tomada de consciência dos profundos desequilíbrios em que se encontra o nosso planeta e que levaram à conformação de um quadro de agonia planetária, com define Edgar Morin em seu livro “Terra-Pátria”.

Nos últimos 60 anos a população mundialtriplicou e mais da metade dos quase 7 bilhões de habitantes do mundo vive na miséria. 50% da riqueza mundial está concentrada nas mãos de 2% da população. As atividades humanas liberam toneladas de dióxido de carbono na atmosfera e as consequências ambientais desse modelo de desenvolvimento são desastrosas: rios mortos, esgotamento dos recursos hídricos, chuva ácida, contaminação dos solos, enchentes, desaparecimento de florestas inteiras, aquecimento global, efeito estufa, buraco na camada de ozônio etc.

Problemas de todas as nações e gerações

Segundo Morin, “durante o Século XX, a economia, a demografia, o desenvolvimento, a ecologia se tornaram problemas que doravante dizem respeito a todas as nações e civilizações, ou seja, ao planeta como um todo”. Estamos no Século XXI e estes problemas, não apenas persistem, como adquiriram dimensões assustadoras, colocando para toda a humanidade o desafio de busca urgente por soluções.

Se nada mudar, a população mundial de mais de 10 bilhões de habitantes, prevista para 2050, terá que se deparar com um mundo mergulhado numa profunda, complexa e multidimensional crise, sem precedentes em toda história da humanidade. Essa previsão não deve, porém, ser encarada de forma fatalista, mas como um alerta para a necessidade de despertarmos e agirmos rapidamente.

Crise é oportunidade

Em “O Ponto de Mutação”, um dos livros mais famosos de Fritof Capra sobre Física Quântica e o novo paradigma holístico, utilizando-se da interpretação do I-Ching para a palavra crise, ele afirma que estamos passando por um momento agudo de transição, onde todas as ameaças e desafios encontram-se intensificados, ao mesmo tempo em que todas as possibilidades e oportunidades estão em aberto, ou seja, trata-se de momento importante, dramático e potencialmente perigoso de mudanças - um ponto de mutação - para o planeta como um todo.

Uma nova visão da realidade

Estamos precisando de uma nova visão da realidade, que permita que as forças que estão transformando o nosso mundo possam fluir rumo a um movimento positivo de mudança social. O homem já percebeu que os recursos naturais vão acabar, que estamos consumindo cada vez mais e cometemos muitos erros. Os EUA, por exemplo,transformaram-se num país de consumidores, onde o valor pessoal é medido pela capacidade de consumo. Cada americano produz 2 kg de lixo por dia e 99% das coisas produzidas transformam-se em lixo em menos de seis meses, pois o sistema capitalista apóia-se no mecanismo de obsolescência planejada, forçando uma alta rotatividade do consumo.

Questões que se colocam atualmente...

Reciclar é necessário, mas não é a solução. Mesmo que fosse possível reciclarmos 100% do lixo, isso não seria a solução. O que se consome pode ajudar a matar ou salvar o planeta. Quando você consome um tênis produzido a partir de uma super-exploração do trabalho infantil, por exemplo, você está sendo conivente com essa situação. Assim como, quando se compra um biscoito que vem com três ou quatro embalagens, está-se colaborando para gerar mais lixo. A maior parte dos produtos industrializados não possui nada em sistema de refil que possibilite o reaproveitamento das embalagens.

Novos Hábitos

A solução está em adotarmos novos hábitos, praticarmos o consumo consciente, transformar o sistema linear de produção em sistema circular, empregar energias renováveis, desmotivar o uso dos automóveis e combustíveis fósseis, transformarmos nossas cidades em lugares mais humanos e igualitários, estimular o uso de bicicletas, resgatar os lugares públicos como espaço de encontro entre as pessoas, adquirirmos consciência de que somos cidadãos planetários.

A história, na forma como vivemos no Ocidente, sempre foi marcada por uma tentativa de fuga na conexão com Gaia (a Terra). Se até recentemente a humanidade encarava o planeta Terra como uma fonte inesgotável de recursos disponíveis para nos servir, nas últimas décadas essa ideia vem mudando.

A religação com um planeta vivo

A reconexão com a Mente de Gaia transformou-se num imperativo moral e uma pré-condição para a própria sobrevivência da espécie humana. Hoje cresce o número de pessoas que vêem a Terra como um organismo vivo, uma totalidade coerente, pensante, sensível e intencional.

A boa nova, portanto, é que o que está morrendo aqui e agora é um mundo que se tornou demasiado desequilibrado pelos seus próprios sistemas falsos de valores. Em “O Poder do Agora”, Eckart Tolle, afirma que até agora a evolução da humanidade foi inconsciente, automática, mas agora se tornou uma escolha consciente de uma espécie e isso é algo revolucionário. A transformação está em se estar alerta e despertos para o presente, o aqui e agora. Parece não haver dúvida de que se torna necessário re-integrar o homem à natureza para que o espírito da Terra volte a se manifestar em toda sua plenitude.

A construção de uma nova civilização

Movimentos contracorrentes que vêm eclodindo no mundo inteiro, como é o caso da Feira da Terra em Lumiar (RJ), estão a indicar que o sonho e a utopia não morreram, mas que a utopia possível implica na construção de uma civilização fundada numa nova ética planetária que abra espaço para a complexidade da criatividade humana, numa perspectiva de cooperação, convivialidade, responsabilidade e consciência de pertencimento à Terra-Pátria. Esse é o papel que o respeito e a valorização da diversidade étnica e cultural podem vir a desempenhar: o de abrir-se para o mundo em direção à construção de uma consciência cívica terrestre, ou seja, a consciência de que a despeito de todas as diferenças somos habitantes de uma mesma esfera humana, de que somos UM entre nós e com o planeta.

Por: ForumSec21